TRINTA ANOS DE TV (1984 a 2014) Memória de Isabel Fomm de Vasconcellos
12 de junho de 1984 - estreia o nosso porgrama Junta Médica na TV Gazeta de São Paulo
Claudette Troiano, eu e Ione Borges no set do meu programa Condição de Mulher, 1986
Equipe técnica : Bareta. Irineu Di Carli, eu, Marcos Ferreira, Diniz e Joaquim no set Saúde Feminina, 2006.
* saiba mais sobre como eram feitos os filmes antigos
No meu tempo de juventude
era comum, ouvindo as conversas dos meus pais, me surpreender com a
quantidade de progressos tecnológicos que ocorrera durante a vida deles.
Para quem nasceu no começo do século passado, o mundo dera um salto da
carruagem à fórmula um, da carta ao telex e assim por diante.
É preciso lembrar que, quando os meus pais nasceram, a luz elétrica era
um luxo e a geladeira tão impensável quanto a máquina de lavar.
Meu pai era um apaixonado por tecnologia.
Muito jovem já fazia suas pesquisas de imagem, já revelava filmes e
fotos na escuridão vermelha dos laboratórios*. Quando apareceu o
primeiro rádio, o de galena, ele subia no telhado da casa para tentar
captar qualquer sinal transmitido. Imagine então o que significava para
ele, acompanhar, pela televisão, a chegada do primeiro homem à lua...
Pensava eu – que nasci quase junto com a TV no Brasil – que o século XX
ficaria na história como o século do salto tecnológico... Mas nos
últimos trinta anos o salto foi ainda maior.
No dia 12 de junho de 1984 comecei a trabalhar na TV, produzindo o
primeiro programa médico da televisão brasileira: Junta Médica,
apresentado por Celso Barreiros, profissional vindo da TV Cultura de São
Paulo, que era também médico.
O programa havia sido uma ideia do meu irmão, Ronaldo Alvan, que era
então diretor de programação da TV Gazeta.
Lembro-me até dos nossos convidados no programa de estreia:
Drs. Adib Jatene, Nabil Ghorayeb e Fadlo Fraige Filho. O tema, Coração,
já que era Dia dos Namorados.
Não tenho, infelizmente, nenhuma imagem desse programa.
Naquele tempo o VHS – Vídeo Home System – era recém-nascido, as fitas
eram incrivelmente caras e nem se pensava em guardar programas de TV.
É estranho para alguém que, como eu, tem em seu arquivo particular
filmes tão antigos, como o primeiro feito por meu pai, em 1937.
O fato é que não guardamos essas imagens do nosso começo na TV.
Tenho alguns programas dos anos 1980, produzidos e/ou apresentados por
mim, muitos programas da década de 1990 e quase todos depois de 1995. Ao
todo, nos meus arquivos digitais, são 2452.
Chega a ser ridículo. Quem vai assistir qualquer um deles?
Nesses 30 anos, muitas realizações profissionais, patrocinadores, muitos
e muitos e muitos entrevistados, milhões de telespectadores. Daria um
livro que eu (tenho quase certeza) jamais escreverei. Já escrevi muito,
aqui nessas memórias, sobre nossas experiências na televisão. Para
mim, é uma história batida.
Gosto mais de pensar no progresso do registro da imagem, desde o
nascimento da fotografia, ainda no século 19 e o desenvolvimento do
cinema no século 20.
Filmar era uma trabalheira louca, com som separado da imagem, negativos
e químicas mil. Nem vou ficar explicando. A TV era local e em preto e
branco. Uma transmissão “em cadeia” era uma aventura. Quando veio o
satélite, o Brasil tinha apenas um canal, via Embratel e a novela que
passava no Rio ou em São Paulo, tinha que ir fisicamente para outras
praças, em fitas magnéticas enormes, em cassetes imensos, que foram
diminuindo de tamanho com o passar das décadas, até chegar a essa
maravilha que temos hoje, a imagem digital. Evoluiremos, sem dúvida,
para o três dimensões projetado no nada, no ar, virtual ou holográfico.
Exatamente como já previu a ficção científica. Estarei aqui para ver.
