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(Beatriz Milhares, 2004, Mariposa)

 

Poema Urgente

por José Eduardo Pereira Lima

 


 

 

Preciso escrever um poema urgentemente
Não pela urgência que pedem seus versos,
Mas pela vontade de minha alma transversa.
Voluptuosa, ela não se acalma, atravessa.
Não quer versos simples, rimas toscas.
Que as palavras se atropelem, se enrosquem
Numa corredeira oblíqua, sinuosa, traiçoeira
E que cheguem retorcidas, cansadas, na areia
Até serem engolidas pelas remotas ondas do mar

Amar – esse é o embate da minha alma revoluta
Astuta busca conquistar o que meu coração ignora.
Que esses versos enfrentem e destratem sem dó
Esta atávica angústia que me ataca traiçoeiramente
Corroendo aos poucos e transformando em pó
Minha inata, ingênua e insegura alegria de viver.
Então, indolentemente me acalmo, abro os olhos
E abraço com tesão o prazer inesgotável de existir