voltar para a página inicial do Portal SAÚDE&LIVROS     voltar para página-site da Dra. Stela    página-índice dos médicos    página-índice dos escritores   Ver Chamada.

(foto: Stela Maris Grespan)

Distorções

por Stela Maris Grespan

 

 

Porque hoje é sábado.
Nem só de Netflix vivo. Ontem assisti, no ótimo canal Film&arts, a um filme de 2016 de Mike Mills, onde a diretora do filme Barbie é uma ótima coadjuvante ( por vezes com protagonismo). O filme é Mulheres do Século XX. É muito bom. A ação situa-se em 79 e trata das dificuldades de uma mãe solteira, para educar seu filho único, adolescente. Todo o elenco tem atuações muito boas, mas quem brilha, enche a tela com uma veracidade ímpar, é Annette Bening, atualmente em cartaz na Netflix com Nyad.
 

Muitos nunca viveram a experiência de criar filhos, ou netos ou sobrinhos, não importa, nem o desamparo que se vive nesta tarefa de moldar o caráter de uma pessoa, prepará-la para ser adulta num mundo em aceleração constante, por vezes difícil de acompanhar e entender por adultos que viveram em outra geração. De todas as responsabilidades da vida que tomei pra mim, certamente, educar foi a mais desafiante. Talvez esta seja uma causa provável, para muitos casais de hoje optarem por não ter filhos ou apenas um.
 

Entre tantas coisas que chegavam ao mundo em 79 ( talvez os mais novos desconheçam) estava a epidemia de AIDS que dizimou milhões de pessoas, como o nosso Henfil que, vivo fosse, estaria completando 80 anos.
 

Na terceira parte do filme, assistimos a cenas que podem parecer ininteligíveis, para a nossa contemporaneidade, quando todos em volta de uma mesa passam pelo constrangimento visível de duas mulheres comentarem sobre menstruação e a perda da virgindade. Essas cenas, são precedidas por outra, que no fundo, foi o motivo deste meu longo comentário. Realmente, muita coisa mudou, porém o conteúdo da fala do então Presidente dos Estados Unidos - Jimmy Carter- no chamado Discurso da Confiança mostra, quatro décadas depois, que muito perdurou e se agravou no tempo.


Reproduzo aqui, uma pequena parte do seu conteúdo a que assisti no filme:
“ Está claro que o grande problema de nossa nação é muito mais profundo que dutos de gasolina ou falta de energia, mais profundo ainda que a inflação e a recessão. Em uma nação que se orgulhava do trabalho duro, famílias fortes, comunidades unidas, muitos de nós, tendem a venerar o comodismo e o consumismo. A identidade de uma pessoa não é mais definida pelo que ela faz, mas pelo que ela possui. Mas descobrimos que possuir coisas e consumir coisas não satisfaz nosso desejo de significado. Aprendemos que acumular bens materiais não é algo capaz de preencher o vazio de vidas desprovidas de fé ou propósito. Isto não é uma mensagem de felicidade ou reafirmação, mas é a verdade, e é um aviso.”


Assim como este, o filme mexicano Família ( na Netflix) mostra os conflitos intergeracionais, as idiossincrasias dentro dos pequenos núcleos familiares ou de grupos de amigos, as dificuldades não visíveis por trás das sorridentes selfies, porém deixa em nós uma suave embriaguês de amor.