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8 de Março – Dia da Mulher Desunida

por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano

 

Em 1891, apenas dois anos após a proclamação da nossa república, algumas mulheres brasileiras -- na sua maioria, de elite e brancas -- lutaram para conseguir colocar na nova Constituição, o direito ao voto feminino. Não conseguiram.

O sufrágio feminino no Brasil só aconteceria em 1934.

 

Em 1985, mulheres brasileiras organizadas -- agora, já também com representatividade de operárias, negras, indígenas e políticas -- lutaram para que a Constituição de 1988 as tirasse de sua humilhante condição de tuteladas por maridos, de cidadãs de segunda classe (equiparadas então, na Carta Magna, aos silvícolas e às crianças) e pela obtenção de plenos direitos políticos, civis e individuais. Conseguiram.

 

Tive a honra, então, a partir de 1985, de entrevistar essas lutadoras e divulgar suas causas no primeiro programa feminista da TV brasileira: Condição de Mulher, na TV Gazeta de S.Paulo e em outras emissoras de outras capitais brasileiras, Brasília, inclusive. (Aqui é preciso explicar que, naquele tempo, não havia muitos canais de satélite disponíveis e os nossos programas eram enviados fisicamente, em grandes fitas de vídeo, por avião, a outras praças).

 

Elas conseguiram. Nossa Constituição, no que tange à condição social das mulheres, foi festejada internacionalmente como uma das mais avançadas do mundo!

 

O papel aceita tudo, não é o que se diz? Dez anos se passaram antes que essas conquistas feministas migrassem da Constituição à Legislação Ordinária. E até hoje, embora muitos desses direitos conquistados estejam presentes na Lei e na vida de muitas mulheres, pouco mudaram a realidade da mulher brasileira no cotidiano.

 

Ainda ganhamos menos que homens, nas empresas, exercendo a mesma função que eles. Ainda somos vítimas da cruel e machista violência doméstica. Ainda somos preteridas, na vida profissional, na hora das promoções. Ainda somos consideradas "menos" e pouco racionais. Ainda somos vítimas de feminicídios passionais e/ou políticos.

 

No entanto, depois de tantos anos militando pela causa da desigualdade social feminina, constato, com uma certa tristeza, que a maior inimiga da mulher ainda é a própria mulher. Somos horrivelmente desunidas. Não aplaudimos o sucesso de nossas irmãs, mas, sim, o invejamos e, se pudermos, puxaremos o tapete da vencedora. Criamos nossos filhos homens de forma diferente das nossas filhas mulheres. Somos nós mesmas que perpetuamos o machismo!

 

Foi lá, nos idos dos anos 1980, que, ironicamente, um homem resumiu para mim a razão desse estado de coisas. Era o Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti, titular de Ginecologia da USP, diretor do Hospital da Mulher (Pérola Byington), Secretário da Saúde, o homem, enfim, que mais fez pela saúde feminina no Brasil. Ele me disse: -- Isabel, todo segmento discriminado socialmente é desunido.

 

Então, meninas! A nossa desunião é o simples fruto da nossa discriminação social! E temos a obrigação de refletir sobre isso!

 

Ouvi, ao longo desses anos, várias "pérolas" de mulheres, que muito me surpreenderam. Uma me disse, no elevador: "Assisto seu programa, mas não entendo porque você luta pelas mulheres, afinal, nós já conquistamos tudo!"

Uma executiva de empresa internacional: " Quem te deu o direito de lutar por mim?" Respondi: "Não luto por você. Luto por mim, que sou mulher."

 

Ouvi muito mais. Mas não vou cansar o leitor com os exemplos (tristes) disso.

 

Ao longo dessas quatro décadas conquistamos alguma coisa. Estudamos. Ocupamos cargos de importância social e política. E, na área da saúde, já não somos vistas como meras reprodutoras, mas como seres distintos do homens, com corpos distintos e que merecem especial atenção, justamente por sermos as reprodutoras da humanidade. A nossa "dança hormonal" foi finalmente reconhecida e isso graças também ao trabalho de médicas como as Dras. Albertina Duarte e Tânia Santana e muitas outras.

 

No entanto, ainda olhamos, uma a outra, como potenciais inimigas e competidoras. Ainda estamos horrivelmente desunidas!

 

Meninas, vamos nos dar as mãos! Vamos caminhar juntas, reconhecendo a nossa discriminação social e reconhecendo, principalmente, que nós somos privilegiadas por nossa grande intuição, um atributo da natureza à nossa capacidade de gerar!

 

Afinal, minhas queridas irmãs, nós, mulheres, somos todas Bruxas. Todas as Mulheres São Bruxas. E isso assusta os homens.

Vamos nos unir. Vamos aplaudir as nossas bem-sucedidas irmãs! Vamos caminhar juntas na luta contra a discriminação do nosso sexo, contra o machismo, contra essa ideia idiota de que "somos menos".

 

Mais compreensão. Mais tolerância. Mais reconhecimento das nossas irmãs que conquistaram posições. Menos inveja, meninas!

Assim, poderemos construir um mundo melhor para as nossas filhas!

 

Feliz Dia Internacional da Mulher!