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Queridos Velhinhos Tristes

por Isabel Fomm de Vasconcellos

(Revista UpPharma)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Munch, auto retrato

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A parte trágica dessa história é que a família costuma ignorar os sinais de depressão ou perda de memória nos idosos, adotando uma atitude conformista, do tipo “isso é assim mesmo”.

A memória começa a falhar, a concentração foge, a tristeza se instala. Você então começa a temer que sua mãe se torne uma daquelas senhorinhas atrapalhadas, vítimas do que os médicos chamam, sem nenhuma piedade, de “demência senil” e nós, os leigos, que tendemos a colocar todas as variações desta no mesmo saco, de “Alzheimer” ou, pior, de “pessoa esclerosada”.

 

Em quase todos os casos, se não nos esclarecermos sobre o verdadeiro processo de envelhecimento, estaremos condenando os nossos velhinhos, aqueles que nos criaram, nos educaram , perderam noites de sono, sacrificaram parte dos seus sonhos porque nos amavam, estaremos condenado esses seres maravilhosos ao mais triste fim que um ser humano pode desejar: a perda da razão, da consciência, da memória.

 

A tendência de todos nós é acreditar que essas perdas fazem parte do envelhecer, que são irreversíveis e que só nos resta tentar preservar ao máximo a qualidade de vida dos nossos idosos. Bom às vezes isso é verdade. Mas, seguramente, na maior parte das vezes não é.

 

Nos idosos, a doença depressão pode trazer os mesmos sintomas da chamada demência senil, ou seja, perda de memória, dificuldade de concentração, certa confusão mental. Além disso, a doença depressão ataca, depois dos 65 anos de idade, 2,3 vezes mais mulheres do que homens. É preciso, diante desses sinais procurar um diagnóstico correto.

O famoso geriatra, Dr. Norton Sayeg, costuma dizer que perda de memória, nos idosos, é comum, mas não é normal. O que não é normal, precisa de tratamento.

 

Já o psiquiatra Dr. Kalil Duailibi alerta para o fato de depressões não tratadas poderem acabar levando à temida demência senil.  Cerca da metade dos idosos que sofrem da doença depressão tiveram seu primeiro episódio depressivo depois de envelhecer – explica o médico – e os sintomas podem passar desapercebidos, serem atribuídos ao simples envelhecimento.

 

A parte trágica dessa história é que a família costuma ignorar os sinais de depressão ou perda de memória nos idosos, adotando uma atitude conformista, do tipo “isso é assim mesmo”.

 

E os próprios idosos contribuem para essa atitude pois,  quando deprimidos, tem uma maior tendência a falar dos sintomas físicos (somáticos) do que dos afetivos e se queixam muito mais da falta de interesse, do prazer e da emoção do que das alterações de humor.

 

Não. Não é “assim mesmo”. Idosos com memória falhando se beneficiarão grandemente de medicamentos modernos. Idosos com depressão terão recuperada a alegria de viver quando devidamente tratados e medicados.

É impossível, hoje em dia, considerar que esses sintomas nos nossos velhinhos e velhinhas sejam simplesmente “normais”, que façam parte do processo de envelhecimento e acabou a história.

 

Você poderá ver seu idoso e sua idosa queridos recuperarem-se desses lapsos mentais se proporcionar a eles o tratamento médico adequado. A Medicina não é capaz ainda de reverter os quadros mais graves como o Alzheimer. Mas pode sim reverter muitos e muitos quadros, antes de deixar que o tempo e a negligência dos familiares os transformem de fato em irreversíveis.

 

Preste atenção ao seu idoso. Proporcione a ele o benefício dos modernos tratamentos médicos. Com isso você o estará salvando de uma velhice horrenda. E, convenhamos, fazer isso é quase nada perto de tudo o que ele fez por você.