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(Vizens Brinkmann, True Colors, Artemis)

 

(Vizens Brinkmann, True Colors, Augustus)

 

 

 

 

 

O Mundo de Cores que Perdemos
Maria José Silveira
 


Só há pouco tempo fiquei sabendo que as estátuas greco-romanas, conhecidas por tantos séculos como brancas, eram originalmente coloridas. No pequeno e fabuloso Museu de Pergamo, em Berlim, onde fui informada disso, meu espanto foi enorme.
 

Desde então, imaginando como essas estátuas seriam um deslumbramento ainda maior se coloridas, lastimo minha ignorância. E lastimo mais ainda porque, ao que parece, essa foi uma ignorância coletiva causada por uma negligência proposital das autoritárias elites das artes.
 

Vejam só.
 

Na Renascença, os pigmentos coloridos das estátuas greco-romanas já haviam desaparecido por um efeito natural do tempo. Como resultado, passaram a ser consideradas originalmente brancas. Escultores do porte de um Michelangelo acreditaram nisso e as tomaram como modelo para criar suas obras-primas em mármore igualmente sem cor.
 

Foi um grande equívoco.
 

Gregos e romanos das priscas eras acreditavam que seus deuses eram cheios de cor e, ao representá-los, não regatearam nas cores. De quebra, coloriram também seus templos. Nas ruas antiquíssimas de suas cidades, a policromia das estátuas e colunas era comum e exuberante. Suponho que deveria ser difícil para o mortal comum passar por elas sem se deter para reverenciá-las.
 

Que tempos!
 

Havia até profissionais especializados em pintar o mármore trabalhado.

 

E como se não bastasse – imaginem outra vez a beleza –, as figuras esculpidas eram vestidas com roupas reais e adornadas com joias autênticas, trocadas a cada ano.
 

Em nossas ruas, hoje, no mesmo dia as belezas imobilizadas pelo mármore ficariam sem roupas e sem joias. Mas poderiam ser expostas com toda sua pompa em um bom museu. Meu queixo cairia vendo o que a humanidade foi capaz de fazer em tempos tão longínquos.
 

Vizenz Brinkmann, o arqueólogo que pesquisou essas cores e o material usado pelos antigos para pintá-las, conseguiu recriá-las e, graças a ele, hoje, na impossibilidade de ir até a galeria onde ele expõe suas descobertas, uma clicada no Google pode nos fazer ver algumas dessas imagens como de fato eram no tempo em que foram criadas.

Mas o que me fez realmente lastimar a ignorância, quando li a respeito, foi a informação de que desde o final do Século 19 os estudiosos já sabiam que essas estátuas eram coloridas, o que foi completa e propositadamente negligenciado no Século 20.

 

“Provavelmente devido a novas estéticas de purismo”, diz Brinkmann. “Não havia mais pesquisa, documentação ou visualização na ciência até iniciarmos nossa pesquisa nos anos 80".

 

A explicação que ele dá para isso é que "As cores vívidas e ornamentos da arte antiga são obstáculos para a arrogância europeia decorrente de uma estética e forma gregas abstratas e intelectuais."
 

Ora, ora!
O que dizer frente a um despautério desses?
 

Apenas afirmá-lo como um exemplo inesperado do que perdemos com a arrogância e o autoritarismo.


Vizens Brinkmann, arqueologo alemão, usou lâmpadas super potentes de ultravioleta, minerais em pó, gesso e passou 25 anos identificando, no mármore das estátuas, as cores que haviam desaparecido com o tempo. O resultado é esse: réplicas das estátuas em suas cores originais.