(Vizens Brinkmann, True Colors, Artemis)
(Vizens Brinkmann, True Colors, Augustus)
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O Mundo de Cores que
Perdemos |
Desde então, imaginando
como essas estátuas seriam um deslumbramento ainda maior se coloridas,
lastimo minha ignorância. E lastimo mais ainda porque, ao que parece,
essa foi uma ignorância coletiva causada por uma negligência proposital
das autoritárias elites das artes.
Vejam só.
Na Renascença, os
pigmentos coloridos das estátuas greco-romanas já haviam desaparecido
por um efeito natural do tempo. Como resultado, passaram a ser
consideradas originalmente brancas. Escultores do porte de um
Michelangelo acreditaram nisso e as tomaram como modelo para criar suas
obras-primas em mármore igualmente sem cor.
Foi um grande equívoco.
Gregos e romanos das
priscas eras acreditavam que seus deuses eram cheios de cor e, ao
representá-los, não regatearam nas cores. De quebra, coloriram também
seus templos. Nas ruas antiquíssimas de suas cidades, a policromia das
estátuas e colunas era comum e exuberante. Suponho que deveria ser
difícil para o mortal comum passar por elas sem se deter para
reverenciá-las.
Que tempos! Havia até profissionais especializados em pintar o mármore trabalhado.
E como se não bastasse –
imaginem outra vez a beleza –, as figuras esculpidas eram vestidas com
roupas reais e adornadas com joias autênticas, trocadas a cada ano.
Em nossas ruas, hoje, no
mesmo dia as belezas imobilizadas pelo mármore ficariam sem roupas e sem
joias. Mas poderiam ser expostas com toda sua pompa em um bom museu. Meu
queixo cairia vendo o que a humanidade foi capaz de fazer em tempos tão
longínquos.
Vizenz Brinkmann, o arqueólogo que pesquisou essas cores
e o material usado pelos antigos para pintá-las, conseguiu recriá-las e,
graças a ele, hoje, na impossibilidade de ir até a galeria onde ele
expõe suas descobertas, uma clicada no Google pode nos fazer ver algumas
dessas imagens como de fato eram no tempo em que foram criadas.
“Provavelmente devido a novas estéticas de purismo”, diz Brinkmann. “Não havia mais pesquisa, documentação ou visualização na ciência até iniciarmos nossa pesquisa nos anos 80".
A explicação que ele dá
para isso é que "As cores vívidas e ornamentos da arte antiga são
obstáculos para a arrogância europeia decorrente de uma estética e forma
gregas abstratas e intelectuais."
Ora, ora!
Apenas afirmá-lo como
um exemplo inesperado do que perdemos com a
arrogância
e o autoritarismo. |