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Relações e Separações

Por Dra. June Melles Megre

 

 

Catarina de Aragão implora a Henrique VIII contra o divórcio

Henry Nelson O’Neil (Rússia, 1817- Inglaterra, 1880)

óleo sobre tela, 42 x 65 cm

Museu e Galeria de Arte de Birmingham, Inglaterra

 

E, embora a separação seja a terceira maior causa de estresse, ela ainda é preferível às consequências do estresse cotidiano, infindável, que se arrasta, prorrogando uma solução.

 

Não se iluda. Não existe a “metade da laranja”. Não se pode colocar a felicidade e a realização pessoal no outro. Quando isso acontece, a separação pode realmente ser danosa para aquele que colocou a vida dele no outro.

“Ela é a minha vida” – é uma ilusão.

 

Costumo dar um exemplo: a vida é o caminho da carroça. Se o carroceiro sabe onde vai, para que vai e porque vai, tudo bem. Se ele encontra uma outra carroça que vai na mesma direção, ok, podem ir juntos sem problemas. Se um dia, decidirem que, numa encruzilhada, cada um pegará uma estrada diferente, talvez lamentem por não mais seguirem juntos. Mas cada um deles continuará sabendo onde vai, porque vai e para que vai.

Quando você desvia do seu próprio caminho para seguir o caminho do outro, na encruzilhada ele seguirá em frente e você ficará perdido, sem saber onde vai, já que não mais estará indo pelo caminho do outro.

Só carroças que tem seu próprio itinerário são capazes de caminhar juntas e enriquecer o itinerário comum no dia a dia da caminhada.

 

Porém muitas uniões não ocorrem dessa forma e a frustração das expectativas falsas geradas por uma das partes, ou por ambas as partes, acaba levando a um desgaste cotidiano que enfraquece e mina a relação.

 

Para uma vida em comum é necessário respeito e vontade de construir juntos. Não há nada pior para a saúde do casal e dos filhos do que uma relação hostil. O estresse causado por isso é quase tão grande quanto o estresse da separação. Com uma diferença: o estresse da separação acaba, passa, depois de um período que chamamos “de luto”. O estresse de uma relação hostil que se arrasta indefinidamente, não. Existem muitas relações assim, em que o casal não se separa por causa do patrimônio ou mesmo dos filhos. E viver com estresse é mais prejudicial à saúde do que um período de estresse. O estresse aumenta o cortisol, causa alterações bioquímicas e o resultado disso é doença: de dores crônicas a eventos mais sérios, doenças bem mais graves.

 

Há relações, é verdade, que podem ser salvas, onde os problemas podem ser discutidos e superados. Mas é preciso que se saiba discutir objetivamente e isso, na maioria das vezes, não ocorre porque existe muita emoção envolvida. Então a ajuda de um terapeuta familiar ou mesmo de uma pessoas próxima, amigo ou parente, pode ser de grande ajuda. Existe esse tipo de terapia também em serviços públicos de saúde.

Mas também há aquelas relações em que a única solução é mesmo a separação. E, embora a separação seja a terceira maior causa de estresse, ela ainda é preferível às consequências do estresse cotidiano, infindável, que se arrasta, prorrogando uma solução.  Como se diz popularmente: “Melhor um fim com horror do que um horror sem fim”.