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(Margaret Keane, Big Eyes, Christmas)

 

 

Abusar um pouquinho na ceia, bem, isso não vai fazer tão grande diferença, se você não tiver abandonado os seus bons hábitos cotidianos.

 

A Cabeça no Natal

por Dra. June Melles Megre 


O Natal é uma época que provoca todo tipo de emoção. A ansiedade é uma delas. Assim, também todo tipo de transtorno afetivo (depressão, síndrome do pânico, fobias sociais e outros) podem aparecer através da ansiedade e aqueles que já estão instalados podem se exacerbar. Afinal, todo o contexto que nos cerca, ainda que nós mesmos não comemoremos o Natal, nem a nossa família, todo esse contexto de emoção e de festividades vai ter efeitos sobre os nossos sentimentos.
 

Além disso, essa é também uma época de grande estresse. E esse estresse é um gatilho para desencadear muitos transtornos afetivos. Muitos pacientes nos relatam que a sua depressão surgiu a partir de um determinado ano, no Natal.


É preciso considerar ainda que o estresse não modifica apenas o nosso sentimento, ele modifica biologicamente o nosso organismo. Essas modificações agem sobre as substâncias cerebrais, como serotonina e dopamina que vão desencadear o quadro psiquiátrico. Por isso é preciso administrar o estresse, estar preparado para enfrentá-lo nas mais diversas situações que acontecem nessa época, como o trânsito muito mais difícil do que normalmente ele já é, a corrida às compras e toda a agitação que está em nós e em torno de nós.

 

Para tanto existem o lazer (que a pessoa tem que procurar se permitir) e técnicas de relaxamento que vão, sim, atuar sobre a química do cérebro e vão ajudar a pessoa, que já apresenta um quadro de transtorno afetivo e está sob controle, a não passar por uma crise novamente, seja de depressão ou de síndrome do pânico, apenas porque é Natal e a rotina do cotidiano sofre uma transformação.
 

Também é uma época em que se abusa muito de álcool e o álcool tem um efeito excitante num primeiro momento e um efeito depressivo posterior.
 

Para as pessoas que sofrem de transtornos alimentares, como bulimia ou anorexia e estão em tratamento, essa também é uma época difícil. Esses pacientes se mantém em rígido controle alimentar e o fim de ano é um momento de várias comemorações, festas no trabalho, na escola, no clube, nas agremiações, sempre com muita comida e bebida, isso sem contar a ceia de natal da família, na véspera, com mesa muito farta e o almoço do dia seguinte, também farto.

 

A única orientação possível para esses pacientes é que se preparem para resistir e não pôr a termo todo o tempo anterior de tratamento por ceder às tentações desse momento. O médico deve ajudar a prepará-los psicologicamente para resistir. E não é assim tão difícil. O conselho é o seguinte: procure seguir a dieta, mas se tropeçar, nada de desespero, nada de se entregar com o pensamento de que já estragou tudo então agora está tudo liberado. Não é assim. É preciso ter em mente que não é a perda de uma batalha que faz com que se perca a guerra.
 

Para o controle do estresse temos que falar em exercícios. Uma atividade física regular, constante e principalmente prazerosa libera endorfinas que vão agir no cérebro acalmando e estimulando a nossa tranquilidade.
Exercícios e técnica de relaxamento andam juntos com a qualidade da nossa alimentação.
 

A nossa bioquímica cerebral também depende dos nossos alimentos. É importante que se faça todas as refeições regulares. Comer pouco e várias vezes ao dia. É importante não ficar em hipoglicemia pois a hipoglicemia pode desencadear a ansiedade. E a alimentação tem que ser boa, o que todo mundo já sabe: frutas, verduras, carnes mais magras, menos carboidratos. É muito importante também que o intestino esteja funcionando com regularidade. O equilíbrio do corpo – alimentação balanceada e atividade física regular – faz o equilíbrio da mente. Aliás, os povos da antiguidade já sabiam disso: mens sana in corpore sano.
 

Isso vale para o ano inteiro, não só pro Natal. Mas nada disso pode ser deixado de lado também nessa época do ano, tão cheia de tentações. Abusar um pouquinho na ceia, bem, isso não vai fazer tão grande diferença, se você não tiver abandonado os seus bons hábitos cotidianos.
 

E uma dica: cada vez que você pensar num Natal que te entristeceu, que te frustrou de alguma forma, lembre-se imediatamente de outro fato qualquer de outro (ou do mesmo) Natal, que te alegrou e fixe seu pensamento apenas nessa boa lembrança.
 Administre bem seus sentimentos nessa época do ano e, aí sim, tenha um Feliz Natal.