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Tributo  á Bob Edwards, 88 anos e  5 milhões de bebês por fertilização in vitro !

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Demeter, a deusa da Fertilidade

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Edwards com a mãe do primeiro bebê de proveta do

mundo, Louise Brown e com Louise e sua filha

 

 

 

por Dr. Artur Dzik

 

Em tempos imemoriais, os povos antigos acreditavam que a mulher era um ser mágico, pois concebia. Para que uma mulher engravidasse, julgavam, bastava deitar-se com o ventre exposto à luz do luar. O ser humano ainda precisou de muitos séculos para descobrir que o homem também tinha um papel nessa história de fazer crianças. Mas ninguém sabia como.

 

Para começar a desvendar o mistério, em  1677 o estudante holandês Ludwig Hamm percebeu que alguma coisa se mexia no liquido seminal e tratou de encher uma garrafa com ele para levar ao seu mestre que resolveu chamar aqueles bichinhos de “animálculos” e só muito mais tarde, no século XIX é que eles foram associados à fecundação e chamados de espermatozoides, já que esperma é uma palavra originada do grego e significa semente.

 

Acontece que o espermatozoide sozinho não é capaz de semear nada. Para “brotar” ele precisa se alojar num outro “animálculo”, produzido no corpo da mulher, o óvulo. Aí sim, surge a semente de um novo ser, uma semente que vai se dividindo em dois, em quatro, em dezesseis e assim sucessivamente até virar um bebê e sair do corpo da mãe.

Mas o óvulo também só foi descoberto em 1826 por Von Baer, graças à invenção do microscópio. Mesmo assim foi só em 1828 que aconteceu a primeira descrição de um óvulo humano, por Edgar Allen.

 

Algumas décadas tiveram que se passar para que os cientistas começassem a se aventurar no estudo desse proverbial encontro entre óvulo e espermatozoide. Para tornar a história ainda mais romântica, a primeira observação científica desse processo, o da fecundação, se deu com a Estrela do Mar. É isso mesmo, o animalzinho invertebrado marinho foi objeto dessa pesquisa porque, diferentemente dos mamíferos, nesses organismos a fecundação acontece externamente ao sistema reprodutor da fêmea.

 

Já a partir 1875 os primeiros trabalhos experimentais em embriologia de mamíferos começaram a prosperar e, no final do século XIX, apareceu pela primeira vez a ideia de se cultivar, para estudo, embriões de mamíferos in vitro. No início os cientistas usavam os coelhos, cujos óvulos são bem grandes. Mas ainda faltava descobrir muito sobre as metodologias e os meios que permitissem a manipulação de embriões e foi só nas primeiras décadas do século XX, com o desenvolvimento da química e a consequente produção de melhores meios a embriologia pode progredir.

 

Na década de 1950 surgiram as técnicas que possibilitaram a cultura de embriões tanto de animais quanto de humanos. Até que em 1959 Chang relatou o nascimento do primeiro mamífero gerado a partir dessas técnicas: um coelho. Vários sucessos o precederam:

- em 1968, camundongos por Whittingham,

- no começo dos 1970 ratos por Toyoda e Chang,

- em 1971 ovelhas por Crosby e, assim por diante até que Steptoe e Edwards conseguiram fazer um bebê humano, em 1978.

 

 

Sir Robert Geoffrey Edwards nasceu em Batley, na Inglaterra, em 27 de setembro de 1925 e foi estudar biologia nas Universidades de Gales e de Edimburgo. Foi pioneiro, não só nas pesquisas científicas da reprodução humana, como também na forma que tinha de se comunicar com o público. Era, ao contrário de muitos homens da ciência, uma figura popular.  Os amigos e familiares o chamavam simplesmente de Bob Edwards.

 

Seus trabalhos de pesquisa com Patrick Steptoe (que morreu em 1988)  deram origem, em 1963, ao primeiro centro de Fecundação in vitro e só 15 anos depois eles alcançaram o sucesso. Foram suas pesquisas em reprodução humana que permitiram o nascimento de mais de 4 milhões de pessoas no mundo, por fertilização in vitro (FIV), até hoje, desde que ele realizou a primeira FIV implantando o embrião que seria Louise Brown no útero da mãe dela.  (Em 2006, Louise deu à luz a uma menina, nascida e concebida naturalmente, o que muita gente temia não ser possível).

 

Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 2010, trinta e dois anos depois que conseguira seu maior feito, Robert Edwars morreu em abril de 2013 e passou para a História.

A técnica da FIV usada hoje em dia ainda é a mesma que Robert Edwards viabilizou em 1978. E só no Brasil, estima-se que, por ano, cerca de dois mil e quinhentos casais inférteis tenham realizado seu sonho de conceber um filho. Um sonho, para eles, só possível porque existiu um gênio chamado Bob Edwards.