voltar para a página da Dra. Albertina

 

A Primeira Vez e o Hímen

Dra. Albertina Duarte

 

O fato é que tudo isso tem pouca importância quando a primeira relação é consensual, quando existe desejo de ambas as partes e não, como acontece muito frequentemente, a mulher está cedendo apenas ao desejo do homem.

 

Sempre que se fala em “primeira vez” e perda de virgindade  surge a questão do hímen. Acontece que esse hímen, em todas as idades, sexos, classes sociais, é um grande desconhecido.

 

Homens e mulheres não sabem muita coisa, via de regra, sobre a anatomia dos órgãos sexuais femininos.

 

Durante décadas, na minha carreira como ginecologista, tive diversos encontros com adolescentes e mulheres adultas.

 

Muitas vezes, quando mostro o modelo da vagina, feita de borracha (e muito bem feita) e digo que as vaginas tem de 8 a 11 cm, em todas as mulheres, algumas ficam, além de curiosas, extremamente bravas:

 

-- Que droga, – dizem elas – para que é que serve então um pênis grande?

 

Serve apenas para perpetuar os mitos do desempenho sexual masculino.

 

Se elas desconhecem o tamanho da própria vagina, é fácil imaginar que desconheçam o tamanho do hímen. Muitas perguntam.

 

O hímen, na verdade, é como se fosse um envelope e tem o tamanho da borda de uma rolha de garrafa de vinho. Sabe aquela primeira bordinha da rolha cortiça que fica para fora do gargalo? Então o hímen tem o tamanho quase igual, isto é, quase meio centímetro. Ele é muito fininho, da espessura de uma folha, sai fácil, e costuma doer quando rompe.

 

Mas cerca de vinte por cento das mulheres tem hímens complacentes, ou seja, eles são elásticos e, depois da penetração, voltam a ser como eram antes. Quer dizer, as mulheres ficam virgens de novo! Já cerca de dez por cento das mulheres tem hímens muito rígidos, que demoram para romper.

 

No entanto, veja bem, se a mulher estiver bem lubrificada, ele rompe! Então, não é imprescindível que sangre na primeira relação; o homem não descobre que ela já teve relação se ela não quiser. Basta que, na relação, ela aperte e contraia bem a vagina, que nunca ele irá descobrir, nunca irá conseguir fazer um diagnóstico preciso.

Portinari, Denise

 

Além disso, quando uma mulher quiser passar por virgem, ela hoje tem o recurso do ácido chamado Meta- cresol sulfônico, uma substância quase cáustica que se aplica em aftas, e que também é usada para compor uma pomada que a mulher aplica no tratamento de corrimentos. Então essa substância deixa uma película muito dura e a pele fica semiqueimada, cauterizada. Assim, quando a mulher vai ter a relação, fica doendo e o homem acha que ela é virgem.

 

Veja bem, como médica, tenho que colocar uma mulher em posição ginecológica para olhar a rotura do hímen. É como se fosse um envelope que está um pouquinho rasurado. Não é fácil ver; tem que pôr de aumento para observar se existem pequenas roturas.  

 

Mas existem muitos himens naturalmente assim, meio denteados. Eu mesma, muitas vezes, posso ficar na dúvida, depois de um estupro. E concluo logo ser necessário um exame mais técnico, feito por um legista para observar.

Como ginecologista, percebo que existem algumas roturas incompletas. Há mulheres que já tem vida sexual há tempos, mas tiveram roturas incompletas. Então, uma mulher vai chegar para mim e dizer: “Eu acabei de ser abusada”, e isso tanto pode ser verdade quanto não.

 

Veja, minha intimidade com essa paciente é que vai trazer a dimensão da confiança entre nós. E mesmo um legista pode se atrapalhar, porque há certos casos de rotura que não são passíveis de identificação, porque depois de 15 dias, todas as roturas ficam iguais.

 

Existem hímens que têm septo. Você já sabe que o hímen é como uma rodinha; o septo é a paredezinha no meio. Então, às vezes, existe hímen; às vezes, um pequeno septo. E esse septo atrapalha. Nem todas as mulheres sabem da existência desse pequeno septo que, quase sempre, precisa ser retirado cirurgicamente. Quase sempre, porque há homens que conseguem romper o septo com o pênis.

O septo é como uma daquelas verruguinhas que se tem e se pode arrancar mais ou menos facilmente. E a textura do hímen é como a da gengiva, é muito fina, muito fácil de sangrar; batendo, pode sangrar... Mas se a mulher estiver mais leve, mais solta, ela nunca sangra. Esse é um fato que também causa muito impacto nas mulheres, quando mencionado em minhas palestras.

 

E são duas as situações em que esse impacto é grande: a primeira, quando explico que o hímen fica na entrada da vagina; e aí elas falam: “Meu namorado disse que era só na entradinha... Que não fazia mal. Ora, mesmo só no comecinho, então, já rompeu, né? E ele que falou que só a cabecinha não fazia mal.

 

uma outra replica: “Opa, só a cabecinha..., e já entrou tudo.” “E se a vagina tem 8, 12 cm...” E elas ficam muito furiosas.

 

A outra situação se dá quando eu falo que nem sempre tem que sangrar.

Então todas tem uma história: da amiga, da avó, da bisavó ou da irmã que foram a vida inteira discriminadas, porque não tinham sangrado da primeira vez.

 

O fato é que tudo isso tem pouca importância quando a primeira relação é consensual, quando existe desejo de ambas as partes e não, como acontece muito frequentemente, a mulher está cedendo apenas ao desejo do homem, por medo de perdê-lo ou vontade de agradá-lo, ou seja porque for.

 

Quando o desejo da mulher é do tamanho do desejo do homem, tudo vai bem. Há lubrificação e o hímen se rompe com facilidade.